sábado, 15 de abril de 2017

O afundamento do I'm Alone


Capítulo 45
O afundamento da I'm Alone
            O interceptor Walcott da guarda costeira americana perseguia uma escuna de dois mastros e bandeira canadense – a I'm Alone – no golfo do México a mais de uma hora de cruzeiro de Louisiana.  O comandante, John Randall, condecorado com a Croix de Guerre françesa por uma escaramuça com um submarino alemão, não ia prestar contas à guarda costeira americana em alto mar.  Dando reforço ao Walcott veio o Dexter, que – em 22 de março – atacou e afundou a embarcação, matando um tripulante francês no centro do Golfo do México após uma perseguição de 24 horas.  O Canadá, embora aderente a um tratado de bebida com os EUA, não via com bons olhos o bombardeio de embarcações de bandeira britânica, sobretudo no alto mar.   Jamais a guarda costeira se atrevera a por a pique um navio estrangeiro – e de bandeira dos aliados comandada por herói de guerra, era impensável.  O primeiro-ministro canadense, William Mackenzie King, fora abordado acerca de negociações do tratado de contrabando no começo de janeiro, mas King, ansioso sobre a possível tendência das tarifas sob o novo governo Hoover, decidiu guardar na manga eventuais negociações como moeda de troca para influenciar nas sobretaxas americanas.[1] 
            Três dias após o afundamento, a dona-de-casa Lilian De King, de Aurora, Illinois, foi morta a tiros por um xerife proibicionista enquanto tentava chamar o seu advogado pelo telefone.  Um informante fora pago $5 para acusar o sr. De King de tê-lo vendido meio-litro de bebida por $2 fazia nove dias.  Ultrajado, o filho de 12 anos do casal baleou o invasor na perna, mas serenos pastores batistas e metodistas pronunciaram a matança da mãe do menino um ato justificado de execução da lei.  A Associação Contra a Emenda da Proibição (AAPA) publicou em 1º de março Escândalos da Execução da Lei Seca – aumentando o senso de ultrage – e a revista Time publicou o texto da Lei Jones na edição de 25 de março.[2] 
            Longe dos jornais, o caso da Illinois Alcohol continuava tomando vulto com mais 15 intimações despachadas em 23 de março e 10 adicionais no dia 25, elevando o total a 76 desde 20 de março.  Também em 25 de março 31 réus – incluindo pessoas jurídicas – compareceram ao tribunal para se declararem não culpados de incorrerem na lei seca de Volstead.  O julgamento teve início em Buffalo, Nova York, para todos os réus exceto os oito cujas denúncias foram julgadas improcedentes.  Foram liberadas as holdings Salnod e Midwest, os Lasdons, Saks, Briem, Lewis e Uldren, mas os outros 29 – incluindo Edward J. Du Pont e o cervejeiro Fred Koch – enfrentariam um júri de seus pares num tribunal federal.  Os jornais chegaram a mencionar o julgamento de 21 de março em Detroit dos inspetores da alfândega que controlavam o comércio de bebidas nas cidades à jusante.  Saltava aos olhos que o crime organizado vinha sendo dominado pelos próprios agentes que os proibicionistas escolheram para cobrar as leis – leis que organizaram o crime.[3] 
            Numa palestra sobre o crime para o Clube Americano em Paris, o ex-comissário Enright, da polícia de Nova York, chamou atenção a novos aspectos do caso do finado chefão de quadrilha Arnold Rothstein.  O assassinato de Thomas Walsh havia renovado o interese no caso, acirrado pela sina de Jack Waller, assistente do chefão, que saltou à sua morte de um vapor da linha Clyde perto da Flórida – supostamente fugindo de assassinos alugados.[4]  Enright alegou que a investigação da morte fora mal-administrada, e que o teor dos papéis do Rothstein foi omitido, sugerindo que uma diligência verdadeira teria “abalado os alicerces societais e políticos – enfim, todos, da cidade de Nova York.”[5]  Isso remetia muito às “provas chocantes, envolvendo figuras públicas importantes na politicagem de Nova York que o promotor federal John M. Blake prometeu mas não entregou em janeiro de 1929.  Parecia até que haveria elementos de verdade nos boatos de corrupção entre a cúpula da autoridade – a despeito da firme censura de menção do caso da Illinois Alcohol na mídia. 
            Naquele dia, o Presidente Hoover teve outra reunião com o comissário James Doran e seu suplente Levi G. Nutt – com certeza para falar da repressão aos entorpecentes.[6]  Os juros dos corretores imediatamente pularam dos 9% de 22 de março – quando pipocaram as notícias – para 14% na segunda e 20% a.a. dia 24 de março.[7]  Hoover e Nutt bem sabiam que o Artigo 27 da Convenção internacional de 1925 exigia do Comitê Central do Ópio “certificar-se de que as estimativas, estatísticas, informações e explicações por ela recebidas... não sejam divulgadas de forma a facilitar as operações de especuladores...”  Mas com os empréstimos dos corretores a juros inauditos, o presidente decerto teria questionado a possibilidade de alguém ter vazado informações sobre o chocante volume de drogas nos relatórios das fontes da Liga das Nações.  Em cima disso havia a situação da Union Bank and Trust Company da Philadelphia, em que o grande júri denunciava oficiais do banco por faturar em cima da capitalização dos destiladores e chefões de quadrilhas![8]  Mas para o cidadão comum que folheava seu jornal matutino, a maior notícia parecia ser o bicho de sete cabeças que faziam do Al Capone.  

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Traduzido de "Prohibition and The Crash" de J Henry Phillips, tradutoramericano.com.br


[1]  (Time Capsule 4/1/29  68-69) (NYT 1/7/29  28) (Spinelli 1989  128-129)
[2]  (CT 10/27/29  3-2) (Time Capsule 4/8/29  69; 3/25/29  68)
[3]  (Docket 11070  4-5) (NYT 3/22/29  11:1; 3/22/29  5)
[4]  (Sullivan Feb.1931  174)
[5]  (NYT 3/22/29  11:1)
[6]  (Hoover 1930 1976  642)
[7]  (WSJ 5/18/29  7)
[8]  (NYT 3/24/29  27)

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